Nascido em 1905 nas montanhas da Carolina do Norte, sua família vivia em uma cabana de madeira bem simples na floresta. Seu pai era lenhador, e estavam sempre em busca de oportunidades para trabalhar, por isso passou parte de sua infância mudando de uma cidade para outra, conforme as oportunidades de trabalho surgiam para seu pai. Aquela época, era um período de capitalismo, sem qualquer fiscalização ou leis referentes a trabalho infantil. Foi assim que aos 13 anos, Rogers começou a trabalhar nas fábricas de algodão, e continuou até 1942. Naquela época, ele ganhava um valor aproximado de apenas $ 3,50 (dólares) por semana. Em sua autobiografia, ele diz: “Não foi nada além de dificuldades. Foi difícil para todos.” Mas Rogers teve a oportunidade de se descobrir no ramo da tatuagem, assim permitindo sair daquela situação difícil de trabalhar muito, e ganhar pouco.
Seu primeiro contato com tatuagem, foi quando um vendedor itinerante visitou a cabana de sua família, ele ainda era criança, e ficou encantado com aqueles desenhos, que despertaram curiosidade, perguntando aquele homem, mais sobre suas tatuagens, fazendo com que ele contasse sobre sua vivência no exercito durante a guerra hispano-americana, deixando Rogers ainda mais impressionado, despertando ali, o começo do seu interesse por tatuagens.
Quando Rogers tinha 21 anos, fez sua primeira tatuagem, com o Chet Cain, um circense itinerante, que pode passar alguns conselhos sobre tatuagem, que em pouco tempo, fez com que comprasse seu primeiro kit de tatuagem.
Rogers começou a tatuar em casa mesmo, tatuava em seu próprio corpo para melhor suas técnicas, e entender melhor o funcionamento, e logo já tinha muitos clientes interessados querendo se tatuar, vizinhos, amigos de amigos.
Logo Rogers já havia tatuado todas as pessoas possíveis ao seu redor, então foi em busca de novos lugares para encontrar novos clientes, se juntando a um dos circos que passavam de cidade em cidade, possibilitando assim, sempre oportunidade de novas pessoas que ele pudesse tatuar, e em paralelo, acabou aprendendo acrobacias, pois cuidar do seu corpo, com treinos, atividade física, alimentação, também era algo que Rogers gostava muito, ele nunca fumou, bebeu café ou álcool.
Em 1932, Rogers fez parte do John T. Rae Happyland Show, onde conheceu sua esposa, Helen. Ela era encanadora de serpentes nesse mesmo espetáculo.
Foram sete meses viajando com essa apresentação, morando em uma barraca, ganhando pouco, e mesmo nestas condições, Rogers se divertia muito, gostava de viver aquela vida, em sua biografia, contou que nesse tempo, recebeu apenas 247 dólares, e que naquele ano, para economizar, fez com que comesse muito amendoim, alimento de fácil acesso e sem custo para os artistas que se apresentavam.
Ao longo da década de 1930, Rogers casado e já com dois filhos, as coisas estavam muito difíceis, e para ajudar no sustento de sua família, Rogers passava os invernos trabalhando nas apresentações, e os verões tatuando no circo.
O dono do espetáculo era padrasto de Helen, sua esposa, então a família estava sempre trabalhando junta.
Rogers explicou que durante esse período muitos tatuadores ganhavam a vida trabalhando com shows itinerantes. Isso foi durante a grande depressão e os tempos eram extremamente difíceis. Ao longo da década de 1930, para sobreviver e ajudar no sustento da esposa e dos dois filhos, Rogers passava os invernos trabalhando nas fábricas de algodão e os verões tatuando no circo. O padrasto de Helen era o dono do programa Happyland, então a família trabalhava junta.
Em 1942, Rogers decidiu abrir sua própria loja em Charleston, Carolina do Sul. Ele tinha um amigo e colega de trabalho, FA Myers, que também tatuava, e convidou Rogers para fazer uma parceria. Assim que abriram sua loja, Rogers conseguiu ganhar até US $ 200 por semana, um valor bem maior que ele conseguia trabalhando nos espetáculos ou nas fábricas.
Com a loja, Rogers recebia muitos clientes marinheiros, muitos já possuíam tatuagens de outros tatuadores, assim logo conheceu o trabalho de Coleman. Os marinheiros que tinham tatuagens feitas por Coleman, eram claramente muito superiores a qualquer outra tatuagem que ele tivesse visto, e todas as vezes que via alguma de suas tatuagens, pegava um papel de celulose transparente, e pedia para poder copiar e assim reproduzir aquela tatuagem em outros clientes. Em sua biografia ele diz: “Eu costumava copiar qualquer tatuagem que eu pudesse dos marinheiros.”
Rogers então, reproduzia os melhores desenhos que havia copiado da pele dos marinheiros, sendo que maioria deles haviam feitas pelo Coleman, e ele tentava reproduzi-las de maneira que ficassem tão boas o quanto ele havia visto, e foi justamente assim que Coleman tomou conhecimento sobre o trabalho de Rogers, em sua biografia, Rogers, conta como foi: “Coleman sempre dizia aos marinheiros: ‘Vocês não têm sequer uma boa tatuagem’. Era uma forma de convence-los a fazerem uma tatuagem com ele. Uma dessas vezes, Coleman pegou o braço de um cara e apontou e falou: “Eu fiz essa e fiz aquela”. Mas o marinheiro disse a ele: ‘Esta não foi você quem fez, foi o Rogers’ Coleman ficou surpreso que alguém pudesse tatuar tão bem quanto ele ao ponto de confundir com um de seus trabalhos, afinal, aqueles desenhos ele mesmo que desenhou.
Certo dia Rogers decidiu escreveu para Coleman, e assim foi um dia conhece-lo pessoalmente e conhecer sua loja, em Norfolk, Virginia. Coleman por já ter visto a qualidade de trabalho de Rogers, ofereceu então uma oportunidade em sua loja, que foi aceita com imensa alegria, pois Rogers, sabia que ele era considerado um dos melhores tatuadores do mundo, se sentindo muito honrado com o convite e sabendo de tudo que ele poderia vir a aprender trabalhando com Coleman.
Foi em 1945, Rogers começou a trabalhar com Coleman, o estúdio ficava em um ponto estratégico, bem próximo a uma casa de strip-tease, que era muito frequentada pelos marinheiros, ou seja, seus principais clientes. Rogers conta, que mesmo sua admiração por Coleman, eles possuíam muitas diferenças: “Ele era um cara muito egoísta”, Rogers também disse, que Coleman era uma pessoa que não gostava muito de socializar, e de atender bem seus clientes, muito diferente dele, que adorava fazer amizade com seus clientes, sair e se divertir com eles depois do expediente, Coleman já era reservado, não conversava com ninguém, e seu estúdio era sua casa, e de lá raramente saia, contrário de mim, eu era amigo de todos. Ele era uma espécie de eremita e praticamente morava na loja.
Outra coisa que incomodava Rogers, era quando Coleman dizia aos seus clientes que não poderia usar tonalidades marrons, ou verdes, caso eles tivessem sido vacinados, pois poderiam deixa-los doentes, assim fazendo com que eles fizessem tatuagens apenas com as cores preta e vermelha, não precisando ter variedade de cores, tornando seu trabalho mais prático. Mas mesmo ele conseguindo aplicar esses truques para economizar seu material, todos os seus trabalhos eram incrivelmente de alta qualidade, claros e bem sombreados, e deixavam sempre seus clientes muito satisfeitos com os resultados.
Apesar de suas diferenças, Rogers aprendeu muito com Coleman, em seu estúdio ele fazia tudo que era necessário no estúdio, inclusive a arrumar as máquinas de Coleman, que foi ai onde se descobriu na tentativa e erro, uma capacidade e nova paixão, não só consertar, mas também em melhorar a capacidade daquelas máquinas.
Em pouco tempo, a notícia que Coleman tinha um tatuador que era excelente em arrumar e melhorar as máquinas se espalhou, e logo estava fazendo a manutenção e aprimoramento os equipamentos dos tatuadores da região de Norfolk.
Infelizmente, em 1950 a parceria de Coleman e Rogers terminou de forma repentina, a cidade de Norfolk proibiu a atividade de tatuagens, obrigando assim tanto Rogers como Coleman, e buscarem novos caminhos para dar continuidade a suas atividades.
Rogers então seguiu, e iniciou uma nova parceria com R.L. Connelly, outro talentoso tatuador que trabalhou brevemente no estúdio de Coleman. Eles abriram lojas em Petersburg, Virginia e Jacksonville, Carolina do Norte, onde Rogers era o dono da loja em Jacksonville.
Já em sua loja, Rogers conheceu Huck Spaulding, que possuía uma loja de equipamentos de tatuagem a meio quarteirão de distância na Court Street. Na época ele descreveu Huck como um tatuador muito limitado, com pouca experiência, e por esse motivo, decidiu passar suas técnicas para que ele pudesse se tornar um tatuador de melhor qualidade.
Em 1955, o local onde era o estúdio de Rogers e Connelly precisou ser demolido, e mais uma vez teve que seguir seu caminho em busca de novas oportunidade, se juntar a loja de seu amigo Spaulding.
Ali se formou mais uma nova parceria de Rogers, que passou a se chamar Spaulding and Rogers, onde eram vendidos os equipamentos e Rogers fazia a manutenção e melhoramentos das máquinas além de tatuar seus clientes.
Rogers ficou na loja por apenas dois anos, mas ainda continuou por mais alguns anos tatuando na loja de Spaulding, até que em 1973 se mudou com sua família para Jacksonville, Flórida. Eles compraram uma casa móvel, assim podendo se conectar com o que ele mais amava fazer, melhorar as máquinas de tatuagem existentes no mercado, surgindo também a possibilidade de poder projetar sua próprias máquinas e assim fabricá-las com todas as características que ele julgava garantir o melhor desemprenho em uma máquina. Era em uma cabana de apenas 12m2, apelidada carinhosamente por “ Fábrica de Ferro “, era lá que ele passava a maior parte de seu tempo, fazendo máquinas, que não eram das mais bonitas, porém possuíam um funcionamento e desempenho incrivelmente de qualidade.
Chuck Eldridge, um tatuador que virou seu amigo após conhecê-lo ainda na loja de Spaulding, era muito fã de suas criações. Eldridge falava sobre as máquinas de Rogers: “Suas máquinas foram construídas quase inteiramente com ferramentas manuais, e é fundamental para um bom tatuador, o bom funcionamento delas, que ela tenha sido devidamente projetada e fabricada. É impossível fazer uma tatuagem de qualidade sem um bom equipamento, é um pré-requisito obrigatório.
Em 1988, enquanto Rogers trabalhava em sua autobiografia, sofreu um derrame que foi levado as pressas para o hospital, onde conseguiu se recuperar parcialmente, diminuindo seu ritmo de trabalho. Tempo depois, ele sofreu outro derrame, o qual foi muito mais sério, paralisando seu lado direito e o impossibilitando de falar e de exercer seu trabalho. Ironicamente, esse segundo derrame que ocorreu no 60º no dia em que Rogers havia começado a tatuar.
Paul Rogers, após o segundo derrame, passou a viver em uma casa de repouso, onde ficou por dois anos, até a data de seu falecimento, aos 84 anos.
Até hoje Paul Rogers é conhecido mundialmente por suas máquinas, e inspiraram e inspiram até hoje a indústria de equipamentos de tatuagem.